segunda-feira, 30 de março de 2009

PAPO DE CRIANÇA MODERNA

> E aí, véio?
>
> Beleza, cara?
>
> Ah, mais ou menos. Ando meio chateado com algumas coisas.
>
> Quer conversar sobre isso?
>
> É a minha mãe. Sei lá, ela anda falando umas coisas estranhas, me
> botando um terror, sabe?
>
> Como assim?
> Por exemplo: há alguns dias, antes de dormir, ela veio com um papo
> doido aí. Mandou eu dormir logo senão uma tal de Cuca ia vir me pegar.
> Mas eu nem sei quem é essa Cuca, pô! O que eu fiz pra essa mina querer
> me pegar? Você me conhece desde que eu nasci, já me viu mexer com
> alguém?
>
> Nunca.
>
> Pois é. Mas o pior veio depois. O papo doido continuou. Minha mãe
> disse
> que quando a tal da Cuca viesse, eu ia estar sozinho, porque meu pai
> tinha ido pra roça e minha mãe passear. Mas tipo, o que meu pai foi
> fazer na roça? E mais: como minha mãe foi passear se eu tava vendo ela
> ali na minha frente? Será que eu sou adotado, cara?
> Sabe a sua vizinha ali da casa amarela? Minha mãe diz que ela tem uma
> hortinha no fundo do quintal. Planta vários legumes. Será que sua mãe
> não quis dizer que seu pai deu um pulo por lá?
> Hmmmm. pode ser. Mas o que será que ele foi fazer lá? VIXE! Será que
> meu pai tem um caso com a vizinha?
>
> Como assim, véio?
>
> Pô, ela deixou bem claro que a minha mãe tinha ido passear.. Então
> ela
> não é minha mãe. Se meu pai foi na casa da vizinha, vai ver eles dois
> tão de caso. Ele passou lá, pegou ela e os dois foram passear. É
> isso, cara. Eu sou filho da vizinha. Só pode!
>
> Calma, maninho. Você tá nervoso e não pode tirar conclusões
> precipitadas.
>
> Sei lá. Por um lado pode até ser melhor assim, viu? Fiquei sabendo de
> umas coisas estranhas sobre a minha mãe.
>
> Tipo o quê?
>
> Ela me contou um dia desses que pegou um pau e atirou em um gato.
> Assim, do nada. Puta maldade, meu! Vê se isso é coisa que se faça com
> o
> bichano!
>
> Caramba! Mas por que ela fez isso?
>
> Pra matar o gato. Pura maldade mesmo. Mas parece que o gato não morreu.
>
>
> Ainda bem. Pô, sua mãe é perturbada, cara.
>
> E sabe a Francisca ali da esquina?
>
> A Dona Chica? Sei sim.
>
> Parece que ela tava junto na hora e não fez nada. Só ficou lá,
> paradona, admirada vendo o gato berrar de dor.
>
> Putzgrila. Esses adultos às vezes fazem cada coisa que não dá pra
> entender.
>
> Pois é. Vai ver é até melhor ela não ser minha mãe, né? Ela me
> contou
> isso de boa, cantando, sabe? Como se estivesse feliz por ter feito essa
> selvageria. Um absurdo. E eu percebo também que ela não gosta muito de
> mim. Esses dias ela ficou tentando me assustar, fazendo um monte de
> careta. Eu não achei legal, né. Aí ela começou a falar que ia chamar
> um
> boi com cara preta pra me levar embora.
>
> Nossa, véio. Com certeza ela não é sua mãe. Nunca que uma mãe ia
> fazer
> isso com o filho.
>
> Mas é ruim saber que o casamento deles é essa zona, né? Que meu pai
> sai
> com a vizinha e tal. Apesar que eu acho que ele também leva uns
> chifres,
> sabe? Um dia ela me contou que lá no bosque do final da rua mora um
> cara, que eu imagino que deva ser muito bonitão, porque ela chama ele
> de
> 'Anjo'. E ela disse que o tal do Anjo roubou o coração dela. Ela até
> falou um dia que se fosse a dona da rua, mandava colocar ladrilho em
> tudo, só pra ele pode passar desfilando e tal.
>
> Nossa, que casamento bagunçado esse. Era melhor separar logo.
>
> É. Só sei que tô cansado desses papos doidos dela, sabe? Às vezes
> ela
> fala algumas coisas sem sentido nenhum. Ontem mesmo veio me falar que a
> vizinha cria perereca em gaiola, cara. Vê se pode? Só tem louco nessa
> rua.
>
> Ixi, cara. Mas a vizinha não é sua mãe?
>
> Putz, é mesmo! Tô ferrado de qualquer jeito...

Autor: Desconhecido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário